O passo em falso quase tirou o equilíbrio de Lightfeather, o deslize do pé movimentou não só a terra rochosa que acabou segurando sua postura como também despertou o movimento de algumas pequenas pedras que partiram ladeira abaixo em uma jornada que exigiria delas um bom tempo até ficarem imóveis novamente. Imediatamente olhou por cima dos ombros para ver se aquele acidente tinha atrapalhado a concentração de Winston, que olhava para ele com uma cara de desaprovação.
— Foco Lightfeather, estamos quase lá! Meu corpo já está muito velho para isso e eu jurei que nunca iria subir o Monte Adamantino novamente, mas essa é a última lição que te falta e aqui estou eu. Disse Winston com um tom de encorajamento e crítica enquanto usava seu cajado para avançar pelo próximo obstáculo.
O Monte Adamantino ficava na Cordilheira dos Andes, era a montanha mais alta fora da Ásia mas nunca foi um lugar conhecido por muitos, o começo da sua trilha ficava em um lugar especial mas Winston lembrava exatamente como chegar até lá e por isso colocou Lightfeather no carro onde viajaram por milhares de quilômetros até a Argentina com o objetivo de ensinar a última lição de autonomia que seu protegido precisava para seguir seu rumo sem ele.
Alguns minutos depois, quando o sol já tinha se posto e a lua se pendurava naquele mágico horizonte estelar que não poderia ser visto de nenhum outro lugar do mundo, ambos deram o último passo vertical e se encontraram no topo daquela geolocalização extremamente privilegiada. Sentaram em rochedos de frente um para o outro, compartilharam a última garrafa de água e recuperaram seus fôlegos.
Com sua mão de punho fechado, Winston aponta o dedo indicador para a lua e dirige a primeira pergunta para seu pupilo.
— Vê minha mão e dedo? Para onde estão apontando? Disse Winston em um tom sério, visto que havia começado a última lição que daria à Lightfeather
— Para a mais intensa e grande lua que já tive o prazer de ver na minha vida inteira. Respondeu Lightfeather com o contentamento de quem se sentia devidamente recompensado pelo esforço que dedicou para chegar até ali.
— O que ela representa para você? Seguiu questionando Winston.
Empolgado com aquela pergunta, Lightfeather não pensou duas vezes antes de começar a responder com todas as sensações que podia traduzir. — O brilho de um planeta celeste! A magnitude de mil estádios! A capacidade de sonhar! A beleza da natureza! A ideia de olhar para os céus e imaginar o mais resplandecente dos futuros! Como é bom estar vivo Winston!
— Concordo com você, mas a resposta ta em outro lugar. Que horas são agora?
Confuso, Lightfeather olhou no relógio iluminado do seu pulso e respondeu — Faltam quinze minutos para as onze da noite.
— A lua está a muitos anos-luzes de distância, você sabe dizer que horas são lá? Como ela pode representar o futuro para você se na verdade ela está no passado? Exatos 1,3 segundos sempre que olhamos.
— Eu não tenho ideia Winston, como eu poderia saber?
— Agora volte seu olhar à ponta do meu dedo Lightfeather, o que ele representa para você?
— Uma direção, uma ideia!
— A lição é essa. Jamais confunda o dedo com a lua, um está na sua frente e o outro jamais poderá ser tocado por você, apenas vislumbrado! Entenda o valor da presença e seja presente. Não existe nada errado em sonhar Lightfeather mas enquanto você olha para os céus, o mundo se transforma, o que pode ser mais belo? A vista ou o chão desse inquebrável monte nos teus pés que nos possibilitou essa experiência? Olha ao seu redor, respira esse ar fresco com teus pulmões!
— Não sei se estou compreendendo.
— Não se prenda ao passado mas siga sempre olhando para frente Lightfeather, não se apegue aos ideais do futuro mas siga sempre sonhando com aquilo que você sente que é certo. Enquanto você olha para a tela do seu celular, o vento vai soprar seu rosto. Enquanto você compete pela atenção dos outros, você deixa de ser presente para quem importa. Quando você perde a oportunidade de fazer algo novo você deixa de girar junto ao planeta por se prender a uma ideia de você que habita no passado da sua mente ou no futuro dos seus sonhos.
— O segredo está no presente Winston?
— Não filho, o segredo está no seu coração por que ele sim bate no ritmo do teu relógio. Nem sempre ela saberá discernir o certo do errado mas deixe ele dirigir teu rumo e siga sempre sendo experimental e gentil, pois todas as pessoas são amáveis. Aprenda a reconhecer seus erros para assim você conseguir aprender com eles. Questione sempre tua intenção e questione sempre as pessoas, por que quando elas estão erradas, costumam projetar a origem da culpa e do mal nos outros ao invés de encarar o reflexo do espelho.
— Acho que compreendi Winston, obrigado por isso. Obrigado por tudo!
— Agora siga seu caminho meu filho, preciso aproveitar meu último momento aqui em cima.